Por Pedro Jorge da Cunha
Passou a primeira parte sentado no banco de suplentes. Em «silêncio absoluto», a contemplar o infinito que o acolheria logo a seguir. Os colegas riam, comentavam, agitavam-se e Dieguito mantinha-se imperturbável. Parecia ansioso, quase a sufocar. Olhava o jogo, a vulgaridade dos actores, percebia que a cancha urgia pelo seu dom.
Ao intervalo o Argentinos Juniors perdia por 0-1. O Talleres de Córdoba marcara por Luís Ludueña, numa distracção de Rúben Giacobetti. O erro valeu-lhe a entrada directa na história do futebol mundial. Giacobetti ficou nos balneários, «por castigo», e deu o lugar a um pibe de 15 anos.
20 de Outubro de 1976: Diego Armando Maradona fazia o primeiro jogo no escalão sénior.
Rúben Aníbal Giacobetti estendeu a passadeira vermelha a D10S. E pouco se importou. Como explica ao Maisfutebol, 34 anos depois, sentiu de imediato estar a gravar o seu nome nas linhas sulcadas por Maradona. Uma «honra», um «privilégio».
«Fui de minha casa para a concentração e comemos uma parrillada», conta Giacobetti. «Foi a primeira vez que vi o Diego. Calado, tímido, ficou num canto da mesa, a cantar baixinho. Não parecia nada nervoso.»
«Tornei-me num discípulo de D10S»
A digestão foi feita numa «longa caminhada». No balneário, atenção máxima às palavras do treinador Juan Carlos Montes. Depois, o relvado. Céu celeste, sol tíbio, envergonhado, a demandar a aparição do Pelusa.
Disfarçado num retrato ridículo, o 16 encoberto pelos calções puxados até ao umbigo. Camisola vermelha, meia brancas dobradas sobre as caneleiras. As chuteiras negras, com três riscas brancas, pernas poderosas e uma farta cabeleira. Assim trajava D10S no baptismo mundial.
«Tomei banho e fui para a bancada ver o jogo. Mal cheguei falaram-me logo do Dieguito. A equipa até estava a jogar mal, mas a bola tornava-se distinta ao chegar a ele. Fez um túnel ao Juan Cabrera logo a começar e ainda mandou uma bola à trave, à entrada da área»
Giacobetti sacrificou-se por um bem maior. Agradece até hoje por isso a Maradona. «Um jogador apenas razoável, como eu, entrou logo ali na bíblia do futebol. Digo isto porque o Diego é, sem dúvida, o deus da bola. Eu tornei-me num discípulo dele, humilde e fiel.»
A análise e as imagens da estreia
O diário Clarín fez uma análise curiosa ao comportamento de Maradona em campo. Comprova que a excelência, a majestosidade, estiveram lá desde o primeiro instante. Vale a pena ler:
«A entrada do chico Maradona, 15 anos apenas, deu maior mobilidade ao ataque do Argentinos. Mas Maradona, um grande habilidoso, não teve com quem trocar a bola. Ninguém o soube acompanhar. Os seus intentos acabaram, geralmente, na férrea marcação do Talleres.»
Génio, génio, génio.
Confira a ficha de jogo:
ARGENTINOS: Carlos Munutti; Alfonso Roma, Ricardo Pellerano, Miguel Gette e Humberto Minutti; Carlos Fren, Rubén Giacobetti (Diego Maradona, 46) e Mateo Di Donato; Jorge López, Carlos Alvarez e Sebastián Ovelar (Ibrahim Hallar, 26).
Treinador: Juan Carlos Montes.
TALLERES: Oscar Quiroga; Victorio Ocaño, Luis Galván, Miguel Oviedo e José Avellaneda; Juan Cabrera, Luis Ludueña e José Valencia; Angel Bocanelli, Humberto Bravo (Víctor Binello, 45) e Ricardo Cherini.
Treinador: Rubén Bravo.
GOLO: Ludueña (27)
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